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Prática espaçada
17.06.2025 • 5 minutos
«Com um número considerável de repetições, é muito mais vantajoso distribuí-las adequadamente ao longo do tempo do que agrupá-las num único momento». Esta frase resulta dos estudos pioneiros centenários do psicólogo Hermann Ebbinghaus (1850-1909). Baseando-se na própria experiência, descobriu que o mesmo número de sessões de estudo repetidas do mesmo conteúdo, espaçadas no tempo, conduz a uma grande retenção dessa informação a longo prazo.
Por outro lado, utilizar o mesmo tempo para memorizar o mesmo conteúdo numa única sessão conduz a um desempenho inferior. Esta abordagem é geralmente conhecida como “marranço” ou estudo intensivo e é típica dos alunos que tentam memorizar o conteúdo à última hora antes de um teste.
O efeito é demonstrado pelos resultados de um estudo de Rawson e Kintsch (2005). A Fig. 1 mostra o efeito da leitura intensiva em comparação com a leitura espaçada num teste imediato versus um teste adiado. Em resumo, a prática concentrada é mais eficaz se o teste for imediatamente após a leitura, mas este benefício desvanece ao fim de apenas um ou dois dias.
Número de unidades de ideias recordadas em função do grupo de estudo (único, releitura concentrada ou releitura espaçada) e do momento do teste (imediatamente após o estudo ou com um intervalo de 2 dias entre o estudo e o teste). Resultados de Rawson e Kintsch (2005).
Esta brilhante intuição foi desde então confirmada em diversas áreas, incluindo a aprendizagem motora, memória de reconhecimento, aprendizagem de pares associados, recordação livre, processamento de palavras, aprendizagem estatística e aquisição de vocabulário. As provas são evidentes em várias populações: crianças, adultos, animais e até em pacientes com amnésia. Apesar do número crescente de dados que evidenciam este efeito, a prática distribuída não é assim tão comum nos hábitos de aprendizagem. Se já reparou nisto, não está sozinho: em 1988, Frank N. Dempster escreveu um artigo em que definiu o uso desconexo das repetições espaçadas como «uma não-aplicação dos resultados da investigação psicológica».
Desde então, uma meta-análise sobre o efeito da prática distribuída (Cepeda et al., 2006), realizada a partir de 184 artigos, mostra que a aprendizagem espaçada dos itens apresenta sistematicamente benefícios, independentemente do intervalo de retenção – ou seja, a separação entre o último estudo e um teste posterior. Além disso, os benefícios da aprendizagem aumentam com o aumento do intervalo entre sessões. O benefício médio observado da prática distribuída é de 15% mais retenção, tanto para crianças como para adultos, em comparação com a prática concentrada. No entanto, estes efeitos não duram para sempre: quando os intervalos de retenção se tornam muito longos, aumentá-los ainda mais pode não ter efeito – ou até diminuir – a memória.
Como sempre, há algumas ressalvas. Apesar de se estudar este tema há tanto tempo, os psicólogos ainda não conseguiram determinar qual o intervalo ideal entre revisões do mesmo material. Além disso, pouco se sabe sobre os efeitos do alargamento ou encurtamento dos horários de estudo na retenção. Futuras investigações terão, por isso, de se debruçar sobre estes aspetos.
No seu artigo “Teaching the science of learning”, Yana Weinstein e os seus colegas sugerem duas formas para os professores colocarem em prática a prática de evocação:
Fontes:
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